Vender produtos e serviços por canais online foi mais do que uma estratégia: neste ano, significou a sobrevivência dos negócios
O e-commerce foi o destaque como modelo de negócio em um ano marcado pela digitalização das atividades, especialmente aquelas do setor varejista.
Produtos e serviços passaram a ter as telas como vitrine e o consumidor descobriu a praticidade e a comodidade de comprar online e receber em casa.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), entre abril e setembro (segundo e terceiro trimestres), 11,5 milhões de pessoas fizeram sua primeira compra online. A associação também registrou mais de 150 mil novas lojas online no período.
Estudo da Neotrust Compre&Confie, em parceria com a ABComm, mostra que entre janeiro e agosto de 2020, o número de transações no comércio online cresceu 80% e o faturamento foi 75,5% maior em relação ao mesmo período de 2019, saindo de R$ 44 bilhões para R$ 77,2 bilhões em oito meses. Boa parte desse crescimento foi impulsionado pelo varejo alimentar.
E a ABComm registrou, na segunda semana de março, aumento de 270% nos pedidos de supermercados, além de uma alta de 212% nos produtos esportivos, de 41,56% de produtos de farmácia, e um pico de 434,70% em brinquedos e jogos. A variação tem como base a primeira semana de março.
Para o vice-presidente da ABComm, Rodrigo Bandeira, o aumento brutal da demanda no e-commerce poderia ter travado parte física do comércio online, como os centros de distribuição e logística – ainda mais considerando os desdobramentos da pandemia, como o afastamento de funcionários de grupo de risco e a operação com equipe reduzida nos galpões. Felizmente, isso não aconteceu. “O que vivemos em 2020, a partir de março, foi um movimento muito próximo ao que costumamos registrar durante a Black Friday [principal data do comércio eletrônico]. Por três meses, foi um movimento assustadoramente forte. Essa receita tinha tudo pra ser um grande barril de pólvora. Mas não foi. A resposta do setor foi muito positiva, mostrou musculatura. A internet cumpriu o papel de unir pessoas, e também negócios” avalia Rodrigo.
O executivo chama a atenção para o pico de pedidos na categoria brinquedos e jogos logo no início da pandemia, assim como nos itens de esporte e lazer. “Vimos setores que não eram tão fortes no comércio online, mas que, pelo momento, se tornaram fundamentais, que foi esporte, lazer e de ‘entretenimento’ das crianças em casa”.
Os segmentos com maior impacto refletem bem o momento que vivemos no ano, o ‘fique em casa’. Além de alimentação, segmentos como móveis, decoração, material de construção, itens de cama, mesa e banho e material de escritório também se destacaram desde março.
Entre esses segmentos, as categorias com maior crescimento foram:
Cama, Mesa e Banho, com alta de 163,4%, e faturamento de R$ 850 milhões;
Alimentos e Bebidas, com alta de 141,5% e faturamento de R$ 1,10 bilhão;
Móveis, com aumento de 132,3% e faturamento de R$ 5,06 bilhões.
O desempenho das demais categorias pesquisadas ficou assim: Brinquedos (+124,03%, para R$ 600 milhões);
Utilidades Domésticas (+111,7%, para R$ 1,29 bilhão); Eletroportáteis (+100,2%, para R$ 1,81 bilhão);
Decoração (+99,9%, para R$ 410 milhões);
Beleza e Perfumaria (+99,20%, para R$ 3,39 bilhões);
Bebês (+94,1%, para R$ 76 milhões);
Telefonia (+93,9%, para R$ 14,59 bilhões).
Já a categoria de itens para escritório, segundo Rodrigo, vinha perdendo posições no e-commerce. Porém, a categoria se reaqueceu com a realidade imposta pelo trabalho remoto. A busca de equipamentos de informática e móveis com melhor robustez teve um aquecimento do setor por busca de uma capacitação residencial”, diz Rodrigo.
Porém, na Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (PCCV), que utiliza dados da receita mensal informados pelas empresas varejistas ao governo paulista, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), que considera o varejo físico, o melhor registro foi para as lojas de materiais de construção, com alta de 15% em relação a 2019.
O indicador da Juntos Somos Mais, rede de relacionamento do mercado de construção civil que reúne 80 mil lojas e 500 mil profissionais da área, apurou que as vendas da indústria para o varejo da construção teve uma performance aproximadamente 30% melhor do que no período pré-covid. O que chama a atenção é que, segundo a rede, no início da pandemia, em abril, a expectativa em relação ao desempenho de vendas para 2020 era muito ruim. Pesquisa realizada no dia 17 daquele mês indicou que apenas 11% dos respondentes acreditavam que o ano de 2020 teria um faturamento superior ao ano de 2019, outros 11% achavam que 2020 seria similar a 2019, enquanto 22% diziam que a queda seria de até 10%, e 56% entendiam que a queda seria entre 10% e 30%.
Mas a pandemia e o isolamento social, combinadas com juros baixos e o auxílio emergencial, acabaram revertendo essa expectativa. Em outubro deste ano, 66% das indústrias indicaram ter aumentado a produção, com 44% operando no limite produtivo, por conta da alta na demanda, que tem levado até mesmo a dificuldades em se conseguir matérias primas como embalagens, cobre e outras. Outro dado que indica o aquecimento do setor é o CUB Médio Brasil, um indicador de custos da construção, que registrou em agosto de 2020 um aumento de 1,24% em relação a julho, sendo o maior aumento percentual de um mês em relação ao anterior desde junho de 2016.
O que podemos perceber é que as empresas que não estavam presentes com um canal de vendas online, tiveram que se adaptar rapidamente a essa nova realidade para continuar vendendo. É por isso que as empresas que já tinham uma loja virtual e vendiam através do e-commerce saíram na frente. Afinal, o e-commerce brasileiro apresentou um crescimento de 48,3% em 2020, se comparado com o ano anterior:
Em 2021 o comércio online deve permanecer aquecido – com o consumidor confortável com o canal – e o próximo passo das empresas deve ser mais operacional que em relação à experiência em si, com a incrementação dos canais logísticos.
Rodrigo destaca uma estratégia que ganhou força este ano e deve continuar se desenvolvendo em 2021, que são as lives interativas com vendas, promovidas pelas varejistas. Outro ganho que deve ser reforçado no próximo ano é a omnicalidade, unindo o novo momento híbrido das atividades, entre online e digital, com lojas físicas incorporando estoque para entrega de compras online e com o cruzamento da venda virtual feita por vendedores das lojas físicas.
Fonte: epocanegocios.globo.com